Logo que
Arthur nasceu, após seu primeiro exame auditivo (BERA) e do
diagnóstico de surdez dado ainda na UTI neonatal, o próprio médico
convidado para realizar o exame me acalmou e disse para analisar os
resultados com desconfiança e repetir o mesmo exame algumas vezes
pois muitas coisas poderiam estar interferindo no seu resultado.
Devo
lembrar que, quando Arthur tinha 2 meses, fui chamada pela médica
responsável pela UTI e recebi o que denominei minha primeira carta
de despejo – ela queria que eu buscasse um hospital para transferir
Arthur pois ele não tinha expectativa de vida, era severamente
comprometido e, com suas próprias palavras: “Ele é completamente
surdo, nunca vai andar, sentar ou sequer controlar a própria
cabeça. Ele só irá pra casa com home care e não vai
passar dos 5 anos. Não quero que ele morra nas mãos da minha
equipe.” Essa mesma profissional (que a meu ver não merece ser chamada de médica) sentenciou meu filho e repetiu muitas vezes que seus cuidados eram apenas paliativos - Mas minha mãe e eu nunca acreditamos neste diagnóstico.
Conhecer este neurologista, foi uma das poucas coisas boas que me
aconteceu naquela unidade hospitalar e, obviamente ele nos acompanha
até hoje e é um dos meus queridos neurologistas pediátricos.
Repetimos tal exame 4 vezes até provar que Arthur não era surdo.
Um ano
depois do nascimento fomos transferidos para internação domiciliar.
Chegamos em casa, Arthur tinha os braços contraídos, espásticos,
quase não os movimentava e praticamente só nos cumprimentava com
os pés – o que presumi ter sido causado por estar sempre
imobilizado por conta dos acessos venosos e fios que o cercavam na
UTI. Já sob orientação da minha mãe, que é pediatra, começamos a trabalhar o relaxamento dos braços, a movimentação dos dedinhos, etc.
Este
neurologista, em sua primeira visita domiciliar, ao ser indagado
sobre tudo o que poderia ser feito pelo Arthur para que ele tivesse
uma vida feliz e confortável me disse que todo tipo de estímulo era
bem vindo, o toque das mãos, texturas diferentes, sensação de
quente e frio, etc. Lembrei de uma passagem do filme “o Óleo de
Lourenzo” na qual a mãe diz para o filho “Lorenzo, diz pro seu dedinho, dizer pro seu pezinho, dizer pra sua perna...” - acompanhando o caminho do estímulo até o cérebro - e, a partir daí,
criamos rituais de massagem, banho e brincadeiras que garantiram a
ele um grande progresso, tudo sempre de forma lúdica, sem
sofrimento.
Um
dos rituais mais valorizados por nós é o ritual do banho, onde
praticamos a BANHOTERAPIA.
O uso da
água é umas das terapias naturais mais antigas, simples e eficazes.
A água é símbolo de purificação e limpeza, associada à origem
da vida e à qual foram atribuídos poderes de cura e regeneração.
Ela tem um poder especial para ajudar no combate do estresse e
rejuvenescer o corpo. Ela age sobre a pele e os músculos, acalma os
pulmões, coração, estômago e sistema endócrino estimulando os
reflexos nervosos na espinha dorsal.
Normalmente
a Banhoterapia é feita através de do banho de ofurô em razão de
seus efeitos mecânicos e ou termais. Ela visa tonificar o corpo,
estimular a digestão, a circulação, o sistema imunológico e
aliviar a dor, além de contribuir para eliminação de toxinas
através da pele. Mas, na falta do ofurô, a Banhoterapia pode
muito bem ser adaptada e ainda assim apresentar resultados
gratificantes pois a criatividade e o desejo de estimular podem
superar a falta de recursos técnicos.
Arthur e
eu praticamos nossa Banhoterapia de diversas maneiras: na piscina,
na banheira de hidromassagem, no bacião ou até mesmo em um bom
banho de mangueira!
Colecionamos
esponjas e escovinhas com texturas diferentes, brinquedos próprios
para banho e utensílios diversos para fazer bolhas de sabão.
Depois de observar a alegria do Arthur após um banho colorido com
permanganato de potássio, providenciei uma banheira de hidromassagem
com cromoterapia. Para evitar problemas com alergia, não usamos
nada que contenha aromas ou corantes – só usamos sabonete líquido
da Granado ou infantil da Johnson – até nossas bolhas de sabão
são à prova de lágrimas!
Não preciso dizer que os ganhos do Arthur foram enormes, inclusive na coordenação motora fina - ele já está jogando videogame (Nintendo DS XL) sozinho!
Recomendo a Banhoterapia do Amor para todas as mães especiais.
Oi,
ReplyDeleteAdorei o seu relato!
Realmente a água é algo precioso. O meu pequeno também adora e a piscina foi a melhor terapia.
Um grande abraço!!!
Michella
Pois é Michella. Meu objetivo com esse relato é transmitir para outras mães o quão importante é a terapia materna - talvez muito mais importante que a fisioterapia em termos de assiduidade e continuidade.
DeleteNós estamos com nossos filhos o tempo todo e se tivermos a noção de que podemos usar esse tempo a nosso favor, fazendo exercícios sutís na forma de brincadeiras e carinhos, de forma lúdica, temos condição de tirar muito mais proveito e progresso do que uma terapeuta que passa 50 minutos com a criança, 3 vezes por semana!
Abraços a essa família bonita!
ReplyDeleteConsuelo, a estrofe do W Blake onde empaquei diz:
"The emmet's inch and eagle's mile
Make lame philosophy to smile.
He who doubts from what he sees
Will ne'er believe, do what you please."
Que diabo é um "emmet"?
Beijos.
emmet é uma palavra de inglês arcaico que significa formiga. Recebeu minhas mensagens com um link sobre W. Blake?
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