Uma torcedora "flagrou" uma pessoa de cadeira de rodas se levantar em um jogo no Maracanã e se achou no direito de filmar, postar e divulgar que um "Torcedor finge ser cadeirante para entrar no Maracanã e se levanta durante a partida"
Estou indignada com a presunção de todos de que, pelo simples fato de uma pessoa levantar e andar curtas distâncias não seja portador de deficiência!
Mais indignada ainda com jornais de grande circulação que esquecem de seu papel social e ajudam a incitar a intolerância contra os deficientes ao não mencionar em suas reportagens que existem muitas deficiências não aparentes - como é o caso da matéria no Jornal O Globo "Torcedor caminha após levantar de cadeira de rodas no Maracanã". Como a própria reportagem afirma: "e acordo com a concessionária que administra o estádio, normalmente, os portadores de necessidades especiais devem apresentar obrigatoriamente, no acesso ao local, um documento, laudo médico ou cartão de acesso ao transporte público (RioCard Especial) para ter direito à gratuidade no ingresso, conforme prevê a Lei nº 2051/92." E quem foi que disse que aquele senhor não cumpriu todos esses requisitos? O simples fato dele ter condições de se levantar e ir ao banheiro? O jornalista foi comprovar se este senhor não é portador de alguma enfermidade que o deixe com mobilidade reduzida mas não completamente imóvel?
Mais indignada ainda com jornais de grande circulação que esquecem de seu papel social e ajudam a incitar a intolerância contra os deficientes ao não mencionar em suas reportagens que existem muitas deficiências não aparentes - como é o caso da matéria no Jornal O Globo "Torcedor caminha após levantar de cadeira de rodas no Maracanã". Como a própria reportagem afirma: "e acordo com a concessionária que administra o estádio, normalmente, os portadores de necessidades especiais devem apresentar obrigatoriamente, no acesso ao local, um documento, laudo médico ou cartão de acesso ao transporte público (RioCard Especial) para ter direito à gratuidade no ingresso, conforme prevê a Lei nº 2051/92." E quem foi que disse que aquele senhor não cumpriu todos esses requisitos? O simples fato dele ter condições de se levantar e ir ao banheiro? O jornalista foi comprovar se este senhor não é portador de alguma enfermidade que o deixe com mobilidade reduzida mas não completamente imóvel?
Já tratamos deste assunto em nossa postagem "Acessibilidade para Inglês Ver".
Para as pessoas que entendem que só existe deficiência visível somente os amputados, tetraplégicos ou paraplégicos podem usar uma cadeira de rodas. Por acaso a pessoa para ser cega precisa não ter olhos? Para ter mobilidade reduzida precisa não ter os membros inferiores? Trata-se de pura ignorância e intolerância!
A Organização Mundial de Saúde define deficiência como toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função psicológica, fisiológica ou anatômica, ou seja, qualquer problema de funcionamento ou falta de parte anatômica, que ocasionem dificuldades de
locomoção, percepção, pensamento ou relação social.
Para se assistir um jogo no Maracanã, uma pessoa precisa andar quilômetros, passar por inúmeras barreiras e uma pessoa idosa ou com mobilidade reduzida não tem condições físicas para tamanho esforço! Trata-se de uma situação plenamente possível, uma pessoa ter mobilidade reduzida, uma doença óssea degenerativa, artrose, precisar de auxílio de cadeira de rodas para longas distâncias mas ter possibilidade de ficar de pé para esticar as pernas ou mesmo ir até o banheiro!
Pela filmagem da senhora justiceira que expôs o vídeo, dá para se ver que o senhor não aparenta ser um jovem atleta, manca e pode ter realmente a mobilidade reduzida - Não estou dizendo que seja este o caso, estou dizendo que devemos lembrar que o princípio legal é de presunção de inocência até apresentação de prova em contrário. Mas vou mais além: precisamos lembrar que ninguém deve ser exposto a constrangimentos ou embaraços, existem meios e autoridades competentes a quem o deficiente deve apresentar prova de sua deficiência ao adquirir sua credencial, da mesma forma em que se prova a menoridade ou a condição de idoso com fins dos benefícios legais. Espertos e mal feitores existem em todos os lugares, a questão é a forma de tratar o assunto que, a meu ver, está sendo tratado de forma perigosa, dando a ideia de que qualquer pessoa pode interpelar outra e exigir prova de deficiência, inclusive incitando a intolerância contra os deficientes.
Infelizmente existem pessoas muito intolerantes e ignorantes que não percebem que muitas pessoas podem ter uma incapacidade não aparente e precisar usar de acentos preferenciais, filas preferenciais sem merecerem a alcunha de aproveitador ou espertalhão! Exatamente o meu caso – uma displasia óssea degenerativa e incapacitante que permite o uso de elevadores e acentos exclusivos mas, aos olhos dos outros, sempre passarei por “aproveitadora” a menos que mande tatuar em minha testa “portadora de deficiência incapacitante porém não aparente”.
Muitas pessoas com paralisia cerebral podem andar mas tem dificuldade, não conseguem alcançar grandes distâncias, sentem dor. Muitas pessoas são acometidas por doenças degenerativas, musculares ou ósseas, conseguem andar mas o uso das pernas ocasiona desgaste e dor. Muitos cadeirantes também podem andar e se levantar!
Meu filho é cadeirante mas graças a Deus ele pode se levantar e andar curtas distâncias. Cadeira de rodas e elevadores não são prerrogativa apenas de paraplégicos ou tetraplégicos, trata-se de um
meio de locomoção para trazer qualidade de vida para pessoas que tenham
mobilidade reduzida também!
As prioridades dadas aos idosos e deficientes visam garantir a eles os mesmos direitos que às outras pessoas não portadoras de uma limitação - direito de ir e vir, de frequentar um shopping, um supermercado, um estádio de futebol - e não colocá-los em situações constrangedoras e torná-los visados a ataques públicos!
Não quero sair na rua com meu filho e correr o risco de ser interpelada por uma pessoa que se ache "normal e politicamente correta" e venha invadir nossa privacidade indagando por laudos se achando no direito de me interrogar ou exigir provas médicas de incapacidade!
Quem é que pode avaliar a minha deficiência? Quem tem capacidade e função para isso? O ascensorista do elevador? O porteiro do Maracanã? O rapaz do estacionamento? Eles vão entender o significado de "portadora de displasia epifisária múltipla congênita" em um laudo médico técnico?
Não quero sair na rua com meu filho e correr o risco de ser interpelada por uma pessoa que se ache "normal e politicamente correta" e venha invadir nossa privacidade indagando por laudos se achando no direito de me interrogar ou exigir provas médicas de incapacidade!
Quem é que pode avaliar a minha deficiência? Quem tem capacidade e função para isso? O ascensorista do elevador? O porteiro do Maracanã? O rapaz do estacionamento? Eles vão entender o significado de "portadora de displasia epifisária múltipla congênita" em um laudo médico técnico?
Os deficientes já sofrem demasiadamente com a exclusão, a falta de acessibilidade e os olhares de curiosidade e de pena para ainda terem que ficar à mercê de falsos justiceiros que ao invés de estarem tratando da própria vida, querem aparecer aos olhos dos outros como pessoas "politicamente corretas" às custas das tragédias e mazelas alheias!