Dia das Mães, dia dos Pais, dia das Crianças, Natal – lindas propagandas na TV sempre buscando incentivar o consumismo só usam modelos bonitos, simétricos, sempre seguindo um PADRÃO de beleza linear e artificial.
Tudo bem que, de um tempo
para cá, podemos reparar numa pretensa atitude “politicamente
correta” de trazer sempre pelo menos um negro ou mulato entre o
branco moreno e o branco loiro e às vezes, um ruivo. Mas e o índio?
E o gordo? E o deficiente? Não vemos um down, um PC, um autista,
um cadeirante, um amputado.
Estou muito tocada com a
ausência de crianças especiais na TV, nos comerciais, nos desfiles,
nas novelas, nos filmes.
Reparei em alguns
comerciais específicos, analisando os contratantes e as agências
que trabalham na contratação do elenco – o que pensa essa gente
que contrata? Que tipo de pessoas eles buscam e por que? Por que
gostam de mostrar famílias quase que cirurgicamente plastificadas –
pai, mãe e filhos sempre atléticos e “perfeitos”?
Nas propagandas de
fraldas e demais produtos de higiene infantil a única diversidade
que vemos é a racial. Notamos que sempre se inclui uma ou outra
criança negra ou parda para não receberem nenhuma crítica de
racismo.
Nos comercias de Natal, por exemplo, no meio daquele monte de
duendezinho lindo, não tem uma criancinha deficiente. Porquê? Qual
o verdadeiro motivo? Ficaria feio? Repugnante aos olhos do
consumidor que só quer ver o “normal” e “perfeito”?
Deficientes não fazem compras, não são consumidores?
O
diferente nunca se encaixa no perfil do
contratante, que acha que seus consumidores só gostam do que é
"bonito, magro, simétrico e estético".
O vídeo da Visa
- Uma Acolhida Mundial para a Copa do Mundo FIFA 2014 –
descrito como “o mais épico canto de futebol do
mundo, executado pelo Coral das Crianças de Petrópolis” contou
com uma centena de crianças brasileiras que se reuniram no
topo de um morro carioca para dar as boas-vindas às 32 seleções
qualificadas para a Copa do Mundo FIFA - o foco
multirracial foi claro mas não mostrava nenhuma criança "diferente"!
As
novelas até tem se esforçado mas 1
down, 1 paraplégica e agora 1
autista estão muito longe de representar
os 24 % de pessoas portadoras de deficiência que fazem parte da
população brasileira.
Esses
24 % de brasileiros, portadores das mais diversas deficiências também
são consumidores, comem, bebem, vestem, usam produtos de higiene e
limpeza, praticam esportes, usam cartões de crédito, estudam e também
compram brinquedos!
Se a novela trabalhasse
a realidade dos diferentes, se nas propaganda do supermercado, do
cartão de crédito, dos produtos de limpeza e higiene, dos produtos
de beleza também estivessem incluídos atores e modelos portadores de
deficiência, com certeza todo mundo estaria mais acostumado a lidar
com a diferença. Tudo seria mais fácil se as pessoas pudessem ver
a diferença em qualquer canto!
Talvez
um fabricante de fraldas percebesse que não é só o público infantil que
precisa de fraldas para piscina, ao contrário, muitos deficientes
poderiam usar a piscina para se tratar e melhorar seu potencial se
tivessem ao seu alcance fraldas de banho para adultos!
Até
adquirir uma cadeira de rodas para um deficiente é difícil pois as
empresas só querem fazer cadeiras padronizadas, nem sempre adequadas
para cada indivíduo em particular.
Recentemente um grupo suiço chamado "Pro Infirmis" divulgou um video mostrando a crianção de manequins inspirados em pessoas portadoras de deficiência:
Não podemos trabalhar
com um ideal de pessoa padrão – pessoas não são manequins e os
manequins deveriam refletir pessoas reais e não o sonho de beleza
plastificada simétrica das pessoas que, cada dia mais, estão
insatisfeitas consigo mesmas e, cada vez mais cedo, estão sendo
influenciadas a se submeter à cirurgias plásticas, que não são
simples nem isentas de riscos como muitos tentam fazer parecer!
* Consuelo
de Freitas Machado Martin, Graduação em direito pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (1997), mestrado em Direito pela
Universidade Gama Filho (2002), aperfeiçoamento pela Fundação Escola
Superior de Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (1998).
Professora Universitária, Advogada e Ativista Social.